Quando o planeta adoece, também adoecemos (por Mariana Caminha)
Revista Nature publicou uma matéria sobre os impactos da crise climática na saúde mental da população
atualizado
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A relação entre o comportamento humano e as mudanças climáticas vai além da simples causalidade: envolve também a forma como reagimos aos impactos dessas transformações e como buscamos nos adaptar a um mundo em constante mudança.
Em outubro de 2024, a revista Nature publicou uma matéria importante sobre os impactos da crise climática na saúde mental da população. Recentemente, participei de um fórum que discutia justamente os efeitos da crise ambiental sobre jornalistas especializados no tema. Um debate urgente e necessário, especialmente diante do aumento na intensidade e frequência de desastres climáticos ao redor do mundo.
Na reportagem da Nature, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos revela que 16% dos americanos relatam ao menos um episódio de sofrimento psicológico relacionado às mudanças climáticas. Esses impactos, no entanto, não são sentidos de forma igualitária. Pessoas em situação de vulnerabilidade — com poucos recursos socioeconômicos, crianças, idosos, gestantes, povos indígenas, pessoas com deficiência — estão entre as mais afetadas.
Um dado chamou especialmente minha atenção: indivíduos que já aram por eventos climáticos extremos tendem a se engajar mais em ações voltadas à preservação do clima. Esse ponto toca diretamente um campo de estudo ainda pouco conhecido, mas cada vez mais relevante: a psicologia ambiental e climática.
Focado nas dimensões emocionais e cognitivas da crise climática, esse ramo da psicologia busca compreender como indivíduos e sociedades processam mentalmente a degradação ambiental e as ameaças ao planeta.
Além de explorar sentimentos como ansiedade, medo, luto e desesperança — cada vez mais comuns em tempos de crise —, esse campo também investiga mecanismos de defesa psicológica, como a negação e a racionalização, e tenta entender por que o conhecimento sobre o problema nem sempre leva à ação.
Embora relativamente nova no debate climático, a psicologia ambiental existe há cerca de 40 anos. No início, focava principalmente na relação do ser humano com espaços físicos — o ambiente doméstico, os locais de trabalho, áreas urbanas. Com o tempo, a abordagem se expandiu e se aprofundou, acompanhando a complexidade da crise ambiental. Hoje, é uma ferramenta essencial na construção de políticas públicas e na promoção de mudanças coletivas.
O livro The Psychology of Collective Climate Action (A Psicologia da Ação Climática Coletiva) é uma verdadeira aula sobre teoria psicológica e motivação, especialmente voltada para grupos ativistas. Uma leitura recomendada para quem deseja entender como mobilizar pessoas em torno de uma causa comum. Pode-se fazer do livro de forma gratuita aqui.
Afinal, as grandes transformações da história da humanidade sempre nasceram da ação coletiva. E quanto mais nos basearmos em conhecimento científico para fortalecer esses movimentos, maiores serão nossas chances de proteger o que ainda pode ser salvo.