Um grito de socorro (por José Sarney)
A cada dia, neste mundo violento, a segurança volta a ser a nossa maior preocupação
atualizado
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A cada dia, neste mundo violento, a segurança volta a ser a nossa maior preocupação, como no mundo primitivo, quando o homem vivia sob o medo de ser caçado, ele mesmo sendo um caçador, quando vivia trepando nas árvores para defender-se — por isso mesmo desenvolveu braços compridos.
Hoje, confirmando essa constatação, as casas estão cada vez mais cercadas por grades em janelas e portas e, quando o morador sai, o mínimo que ele teme que lhe possa acontecer é um assalto para levarem seu celular. Mas há que se pensar também no quase raro, mas sempre possível de ocorrer: o risco de perder a vida dentro de sua própria casa. Foi o que aconteceu com o engenheiro Francisco Filippo, que foi morto antes de ser furtado, mesmo após ter se rendido aos assaltantes, o que causou grande comoção em São Paulo.
Mas do que quero falar é do hediondo crime que está surgindo, com a cobertura ampla de toda a imprensa: a prática de homicídio por meio da oferta de alimentos envenenados, quase sempre guloseimas, bolo ou chocolates. E as vítimas estão comendo esses alimentos, recebidos sempre como uma manifestação de carinho — mas ali está a morte.
Quando vi essa nova e revoltante modalidade de crime, que causou a minha revolta profunda, logo pensei nas terríveis consequências da repercussão, no didatismo que essa divulgação poderia provocar nas pessoas que possuem instinto assassino e são vacilantes em usar meios violentos, que poderiam fazer essa ignóbil escolha. Era também inevitável que surgisse um medo generalizado de ser mal interpretado ao se presentear alguém oferecendo-lhe guloseimas — como é hábito quando se deseja mostrar gratidão ou em diversas manifestações de carinho. Não aconteceu outra coisa: além desse medo, agora se despertou o sentimento da desconfiança: a suspeita paira sobre esse gesto de carinho.
Uma amiga minha contou-me que foi a um hospital visitar uma pessoa de seu relacionamento, internada em uma enfermaria, e levou alguns chocolates e biscoitos para ofertar à equipe do hospital, que tão bem cuidara da pessoa de seu afeto. No entanto, na portaria, quando os recepcionistas e seguranças viram aqueles presentes, indagaram sobre seus objetivos de distribuir as guloseimas. A moça lhes respondeu de sua intenção, e os funcionários informaram que havia uma instrução recente para não se permitir entrada de alimentos sem verificar se estavam livres de veneno. Assim, com o constrangimento da visitante, os chocolates e biscoitos foram examinados, verificando-se que não continham veneno: apenas carinho e gratidão.
Vejam como já está viralizando as notícias de envenenamento na internet:
Em 2024, o Brasil registrou casos alarmantes de envenenamento alimentar. Em dezembro, quatro membros da família dos Anjos morreram após ingerirem um bolo envenenado com arsênio em Torres, Rio Grande do Sul — incluído um membro dessa família que havia morrido em setembro. Em janeiro de 2025, em Parnaíba, Piauí, nove pessoas da família Silva foram envenenadas após consumirem um prato de baião de dois contaminado com terbufós, um inseticida altamente tóxico. Infelizmente, dessas nove pessoas, cinco faleceram. Além disso, a Comissão Pastoral da Terra (T) informou que os registros de contaminação por agrotóxicos aumentaram 950% no primeiro semestre de 2024, indicando um uso crescente de venenos em alimentos como forma de violência no campo. Diversas fontes noticiaram esse aumento tão expressivo, como a Agência Brasil, Terra e Brasil de Fato.
O suicídio, por decisão dos próprios controladores da mídia, jornais e TV, não é mais divulgado, a fim de evitar que seja estimulada essa prática de autodestruição da vida.
O que venho pedir agora, implorando a todos os que istram a mídia brasileira, jornais e tevês, é que também não divulguem mais estes crimes hediondos do envenenamento com oferta de comida, pois sabe-se que a simples divulgação estimula essa prática tão desprezível.
As imagens do menino morto por envenenamento em Parnaíba e de Ana Luiza de Oliveira Neves, a bela moça de 17 anos morta após comer um bolo de pote envenenado, por ciúme, clamam por clemência da sociedade, e eu, a todos os es da mídia, peço que cessem de divulgar esse hediondo crime.
José Sarney, ex-presidente