Coleta seletiva garante renda para mais de mil catadores em Curitiba
Programa iniciado na década de 1980 recicla quase um quarto dos resíduos sólidos produzidos na capital paranaense
atualizado
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De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), relativos a 2024, cada brasileiro morador de uma zona urbana produziu diariamente 1,1 kg de lixo, tecnicamente tratado como resíduo sólido, em média. Lançada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos planejava que em 2025, dentro de um cenário ideal, 20% dessa produção de lixo deveria estar sendo reciclada. No entanto, o índice nacional está distante do planejado, tendo alcançado apenas 4,5% em 2024.
No entanto, iniciativas bem-sucedidas em diversas áreas buscam reverter esse quadro. Referência nacional dentro da política de coleta seletiva e reciclagem de lixo, Curitiba vem atuando na área com diversos programas desde o fim dos anos 1980 e, hoje, recicla 23,8% de seu resíduo sólido.
“Em 1989 foi lançado o primeiro programa, que era o Compra do Lixo, que fazia a permuta de vale-transporte por lixo recolhido nas caçambas instaladas em comunidades que não tinham coleta regular”, lembra Edélcio Marques dos Reis, diretor de limpeza pública da Prefeitura de Curitiba.
A este ponto, seguiram-se diversas outras ações que atualmente levaram a uma organização em que todas as residências da cidade são atendidas pela coleta seletiva de lixo pelo menos duas vezes na semana, em dias alternados com a coleta normal.
O material é recebido, triado, tratado e comercializado por 50 associações e cooperativas, que congregam mais de mil catadores e catadoras. A ação garante uma renda média de R$ 1,9 mil para cada pessoa, valor superior a um salário mínimo. Somado a isso, a capital do Paraná conta com mais de 100 pontos em que o cidadão realiza a troca de lixo por produtos da agricultura familiar, incentivando a política de economia circular. “A meta da cidade é alcançar 30% de resíduos sólidos devidamente reciclados”, aponta o diretor.

Reciclagem e sustentabilidade
A separação ideal do lixo com a coleta seletiva, além de garantir renda e um destino sustentável aos resíduos, pode se transformar em um jogo de ganha-ganha com a limpeza do meio ambiente e a geração de energia, tudo em um processo só.
“A separação do resíduo de forma ideal pode evitar que tenhamos problemas com microplásticos, por exemplo. E esses mesmos microplásticos podem ser transformados em fonte de geração de energia para nós”, destaca a pesquisadora Dulce de Araújo Melo, especialista em Ciência dos Materiais e Energias Renováveis.
A pesquisadora coordena estudos a respeito da transformação de diversos rejeitos, como os gases produzidos em aterros sanitários, em energia. “As transformações são diversas para a produção do que chamamos gás de síntese, o hidrogênio que é aplicável em geração de energia, produção de amônia, que chamo de hidrogênio sustentável. Oriento o estudo de uma aluna que aponta para a transformação de sebo bovino em combustível leve para aviação, o bioquerosene. É como se diz: do lixo ao luxo”, completa Dulce.
Iniciativa que é exemplo
Das grandes às pequenas iniciativas, o aumento do reaproveitamento dos resíduos sólidos vem ganhando espaço como medida de proteção do meio ambiente. Em São Miguel do Gostoso, cidade litorânea do Rio Grande do Norte com pouco mais de 10 mil habitantes, a escola Baobá implantou uma iniciativa de economia circular, a partir de uma ideia proposta pelos próprios alunos, com foco na reciclagem de materiais.
Para cada 5 kg de lixo entregues no ecoponto criado no espaço escolar, o aluno recebe 1 Baobá, moeda criada pelos próprios estudantes com circulação própria para os eventos promovidos na escola, como bazares, festas juninas e afins. No primeiro período de coleta realizado neste mês de maio, foram recolhidos pouco mais de 43 kg no ecoponto.