Crime da 113 Sul: saiba tudo sobre o julgamento de Adriana Villela nesta segunda
A sessão, histórica, deve durar pelo menos cinco dias. Confira 10 argumentos da defesa e da acusação
atualizado
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Acusada de ser a mandante do triplo homicídio, que ficou conhecido como o crime da 113 Sul, a arquiteta Adriana Villela senta no banco dos réus nesta segunda-feira (23/09/2019), a partir das 9h, no Plenário do Tribunal do Júri de Brasília.
Ao soar da primeira campainha, a sessão será aberta. Um oficial de Justiça chamará os 25 jurados previamente escolhidos para que o nome deles e por sorteio. De uma urna sairão os sete escolhidos responsáveis pela condenação ou absolvição da ré. Eles analisarão todos os argumentos da defesa e da acusação, além de ouvir as testemunhas antes de dar o veredito.
Em julgamento histórico, previsto para durar cinco dias, os sete formadores do Conselho de Sentença, junto ao juiz presidente do Tribunal do Júri, decidirão se Adriana é ou não a mandante do assassinato dos pais: o ministro aposentado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela. A funcionária da casa, Francisca Nascimento Silva, também foi executada. Eles foram mortos a facadas — 73 no total —, em 28 de agosto de 2009.
Testemunhas
Por lei, a defesa da ré e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) têm o direito de chamarem 15 testemunhas. Elas ficarão recolhidas em salas distintas, separadas as de acusação das de defesa, para que não ouçam o depoimento umas das outras e não se comuniquem. O julgamento será conduzido pelo juiz titular da Vara do Tribunal do Júri de Brasília, Paulo Rogério Santos Giordano.
Guerra de versões
Na semana que precedeu a sessão, a defesa de Adriana Villela tentou suspendê-la, por entender que o laudo nº 15.000, que coloca a arquiteta na cena do crime, não teria valor. Na visão dos defensores, papiloscopistas não têm competência para um exame de tal envergadura.
Baseado nisso, os criminalistas Antônio de Almeida Castro, o Kakay, e Marcelo Turbay, pediram que o julgamento ocorresse somente após realização de novo laudo papiloscópico.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso acatou o pedido parcialmente e determinou ao juiz que, no momento da sessão, esclarecesse ao júri sobre o questionamento do laudo.
A defesa recorreu e pediu novamente a suspensão. Na última quarta-feira (18/09/2019), o ministro Gilmar Mendes foi sorteado para relatar o caso e na noite dessa sexta-feira (20/09/2019) rejeitou os HCs dos advogados e manteve o julgamento para esta segunda (23/09/2019).
O MPDFT discorda de Kakay e Turbay e defende a validade do laudo. Para o promotor Maurício Miranda, que atuará no Júri ao lado do colega Marcelo Leite, o trabalho feito pelos papiloscopistas é de alta qualidade. “São pesquisadores, doutores, verdadeiros cientistas. As informações que eles coletaram foram publicadas em revistas internacionais de ciência forense”, ressaltou o também primeiro promotor a atuar no caso.
Miranda detalhou o trabalho técnico executado pelos especialistas. “Diversos casos foram resolvidos com base na datação das digitais. Neste caso, o que permitiu chegar àquelas conclusões é que cientistas viram as diferenças morfométricas, usando a digital da própria Adriana, no mesmo ambiente”, afirmou.
Jurados
Todas as alegações apresentadas serão ouvidas pelos sete jurados escolhidos. Após o sorteio, eles começam a escutar os argumentos e fazer as análises. O grupo ficará incomunicável até o término da sessão, não podendo falar com outras pessoas nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do conselho.
Ou seja, como a análise do caso de Adriana Villela está prevista para se estender por mais de um dia, eles não poderão retornar às suas casas. Vão pernoitar, comer, tomar banho e fazer necessidades fisiológicas nas dependências do tribunal, sob acompanhamento constante.
Quando o conselho de sentença se forma, os jurados recebem cópia das principais peças do processo e am a acompanhar toda a sessão. No fim, eles vão responder às perguntas que o juiz presidente fizer. Serão questionados se o delito realmente ocorreu (materialidade), se a acusada cometeu o delito do qual está sendo acusada (autoria), e se ela deve ser absolvida. Também definirão questões relativas a causas de diminuição de pena, atenuantes e possíveis aumentos de qualificadoras.
Diante das respostas, o juiz anunciará o resultado pela absolvição ou condenação de Adriana Villela e, posteriormente, fará a dosimetria da pena, ou seja, calculará a quantos anos a ré será condenada.
Veja a dinâmica do crime da 113 Sul:
Meditação, cachoeiras e trabalhos artesanais: a vida de Adriana Villela 10 anos após o crime da 113 Sul
Apontada como mandante do crime, Adriana Villela aguarda julgamento em liberdade. A arquiteta recebia uma mesada de R$ 8 mil, mas considerava pouco, o que motivava discussões acaloradas com os pais.
Adriana é suspeita de ter contratado Leonardo para matar os pais por R$ 60 mil. Ele, por sua vez, teria prometido dar R$ 10 mil a Francisco para executar o crime.
Há quase nove anos ela mora no Leblon, no Rio de Janeiro, em um apartamento dos pais. A herança deixada pelos Villela, estimada em mais de R$ 40 milhões, foi dividida entre ela e o irmão, Augusto Villela.
Enquanto não é levada a júri popular, Adriana se define como alternativa. Nas redes sociais, costuma publicar fotos meditando em montes, pintando quadros, curtindo em cachoeiras ou produzindo utensílios com materiais recicláveis. No Facebook, apresenta-se como proprietária de uma marca chamada Atelier de Arquitetura e Reciclagem Verde Garrafa.
Apesar de ar pouco tempo em Brasília, optou por não vender uma mansão no Lago Sul que fica praticamente o ano todo fechada. Em Brasília, ela conta com a defesa de um dos criminalistas mais prestigiados do país, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Embora não conceda entrevistas, contratou uma empresa de assessoria de imprensa.